quinta-feira, junho 3

amigo

foram muitos os dias que nos fizeram
dias longos de longas conversas
um pouco por todo esse espaço
onde ousámos coexistir
e plantar essa flor tão fragilmente
perene

conheço-te tão bem que às vezes
me pareces um estranho que
também quer partilhar as dúvidas
incómodas que vagueiam na
minha rua que lentamente morre
com a tarde

sabes acho que chorei muitas vezes
por não ter um irmão

mas foram muitas as palavras que nos
uniram continuamente
como uma linguagem que se reinventa
ao sabor de rios que correm lá
longe
muitos os sonhos que deixámos
voar por entre gestos
difíceis magoados

foram muitas as horas que vimos
correr sem pressa no vagar precioso
dos melhores anos da vida
olhados agora com a nostalgia ridícula
de quem se sente subitamente triste
ou demasiado inconformado
com uma ou outra desilusão

mas não sabes quantas vezes chorei
por não conseguir ser melhor amigo

e foram tantos os minutos em que desejei
que estivesses por perto e não me deixasses
morrer que hoje apenas te posso pedir que
quando esse dia chegar que sejas ainda como sempre
o meu melhor amigo

e que a vida nos tenha feito irmãos