parece que te vejo. digo-te. pergunto se eras tu e aproveito para perguntar como estás. dizes que estás bem mas que não eras tu. estou definitivamente com alucinações. ou iludido por uma presença que nunca passou afinal de uma ausência. tão certa como o nosso amor nunca ter existido.
a era virtual é isto. foi nisto que nos tornou. náufragos. dependentes das máquinas. decepcionados pela perda das palavras escritas no papel ou na pedra. desta vez foi assim. perdi-te em segundos. não sei o que fazer. desculpa. distraí-me. apaguei-te em segundos. até quando a memória te guardará?
io non ho paura é um filme fabuloso sobre a infância. sobre como as coisas importantes se aprendem e descobrem na infância. mesmo a amizade ou o sacrifício mais profundo.
ou como o mundo das crianças não cabe numa aldeia sem valores.
foram muitos os dias que nos fizeram
dias longos de longas conversas
um pouco por todo esse espaço
onde ousámos coexistir
e plantar essa flor tão fragilmente
perene
conheço-te tão bem que às vezes
me pareces um estranho que
também quer partilhar as dúvidas
incómodas que vagueiam na
minha rua que lentamente morre
com a tarde
sabes acho que chorei muitas vezes
por não ter um irmão
mas foram muitas as palavras que nos
uniram continuamente
como uma linguagem que se reinventa
ao sabor de rios que correm lá
longe
muitos os sonhos que deixámos
voar por entre gestos
difíceis magoados
foram muitas as horas que vimos
correr sem pressa no vagar precioso
dos melhores anos da vida
olhados agora com a nostalgia ridícula
de quem se sente subitamente triste
ou demasiado inconformado
com uma ou outra desilusão
mas não sabes quantas vezes chorei
por não conseguir ser melhor amigo
e foram tantos os minutos em que desejei
que estivesses por perto e não me deixasses
morrer que hoje apenas te posso pedir que
quando esse dia chegar que sejas ainda como sempre
o meu melhor amigo